Hiper feminilidade e a Pick me Girl – a polarização de personagens femininas

Hiper feminilidade e a Pick me Girl – a polarização de personagens femininas

Nós crescemos consumindo histórias em que a garota boazinha e a garota malvada eram um completo oposto, mas até que ponto nós não gostávamos da vilã por ela mesma ou pelo seu estereótipo?

Você deve conhecer essa história: temos uma garota e ela sabe que é diferente de todas as outras. Ela não se dá bem com as meninas da sua idade, despreza as garotas que considera fúteis (porque essas garotas se interessam por algo como, não sei, moda) e se destaca por demonstrar esse desprezo.

Já vimos várias protagonistas femininas assim ao longo dos anos, na literatura, por exemplo, temos Bella Swan de Crepúsculo, no cinema, a Cady de Meninas Malvadas, mas essas são apenas os exemplos mais famosos. Até mesmo em música nós vemos essa história se repetir como em Skater B8i da Avril Lavingne e You Belong With Me da Taylor Swift são outros exemplos dessa garota – a Pick Me Girl.

Eu mesma só descobri esse termo recentemente e acho que já deu pra entender quem é a Pick Me Girl (Garota me escolha, em inglês). Ele se refere ao estereótipo da menina que despreza os elementos  e aspectos que nossa sociedade entende como relativos à feminilidade.

E é aqui que quero deixar algo claro: não existe problema algum nos gostos de uma pessoa, se eles refletem ou não o esperado socialmente. Este texto visa justamente apontar o problema com o qual convivemos desde sempre em nossa cultura que é o de julgar aquilo que culturalmente é considerado feminino, ou relativo às mulheres como fútil, sem valor e pouco importante e ressaltar personagens que enxergam tudo isso como negativo e que para serem “especiais” devem seguir na contramão.

Busco apenas apontar que, muitas vezes, se criamos uma antipatia por uma personagem pode ser simplesmente porque fomos ensinados que uma garota assim vai ser a vilã, a garota sem inteligência, a promíscua (e nesse caso já entra em outra questão sobre a repressão da sexualidade feminina).

Mas vamos voltar à Pick Me Girl. Como disse, não existe absolutamente nada de errado em não se identificar com o que é considerado feminino, até porque, isso é uma construção social, mas na mídia, esse desprezo acontece justamente pela inferiorização do feminino.

Se por um lado personagens ultra femininas costumam ser desprezadas ou odiadas, as personagens Tomboy, ou seja, as de estilo moleque e que têm características culturalmente consideradas masculinas, são adoradas.

Sansa Stark e Arya Stark

A primeira vez em que meus olhos foram abertos para essa questão foi em um texto sobre Sansa Stark. A garota que sempre foi minha personagem favorita na série de livros A Canção de Gelo e Fogo de George RR Martin, costumava ser uma das mais odiada dos fãs. A visão tem mudado, especialmente com o desenrolar da personagem na série Game of Thrones, mas há dez anos atrás, quando essa história começava a se massificar, a visão era outra.

Sansa é o epítome de uma lady nessa série de fantasia medieval e George Martin, como um magnífico escritor de personagens que ele é, traz esse caráter dela em cada detalhe de seus capítulo e sua história.

Em contrapartida, Arya Stark, a irmã que não gosta de ser lady e até mesmo assume a identidade de um garoto em determinado momento é, provavelmente, a personagem mais adorada.

É claro que como já disse, Martin é um excelente construtor de personagens e o caminho de cada uma também é determinante para a simpatia do público, mas essa polarização onde se odeia demais uma enquanto a outra não têm defeitos, pode sim ter uma raiz no desprezo geral da nossa sociedade pela hiper feminilidade.

A hiper feminilidade

E aí temos o outro extremo. Se a garota que despreza outras garotas ou a garota que mais parece um menino (do ponto de vista sociocultural) são as protagonistas, onde fica o outro estereótipo? Bom, nós temos que ter nossas vilãs, não é mesmo?

Isso era bastante comum nos livros e filmes adolescentes de 2010 para trás. A antagonista, além de ser essa garota antenada em moda, ou a líder de torcida linda, era a garota invejosa e burra. Eu sei que você pensou em vários filmes da Sessão da Tarde nesse momento: Garotas Malvadas, que já foi mencionado, Ela é Demais, 10 Coisas que eu Odeio em Você, entre outros.

Até mesmo para os fãs de Harry Potter, o desprezo que Hermione Granger (a garota inteligente) tem por Fleur Delacour (a garota bonita) é um reflexo disso. E aproveito para ressaltar que a maioria das obras que estou citando, são histórias que adoro e revejo e releio até hoje, mas isso não significa que não se deve refletir e discutir seus defeitos.

Mas as coisas estão mudando

Outro ponto em comum sobre as obras que citei é que elas não são exatamente recentes, isso porque, quando parei para pensar, não lembrei de nada que li ou vi recentemente se encaixasse nesse estereótipo. Deve existir? É claro que sim, mas passou fora do meu radar e isso é sim um reflexo de que essa retratação está diminuindo.

Seja em obras de fantasia ou não, as mulheres estão cada vez sendo mostradas como, adivinhem só? Mulheres! Seres humanos com nuances, gostos, e outras preocupações para além do que a outra está vestindo e do interesse amoroso. É um alívio constatar essa mudança que serve como um pontapé para diminuição de outras problemáticas que englobam personagens femininas: como gordofobia, rivalidade feminina, elas servirem de muleta para o crescimento emocional de um personagem masculino, entre vários outros temas.

E você, pensou em outras mulheres da cultura pop e livros que fazem parte desses estereótipos? Conta para mim, quero muito lembrar de outras.


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