A demora do Patrick e do Martin e o consumir arte

A demora do Patrick e do Martin e o consumir arte

George R. R. Martin posa como ganhador da melhor série dramática do 67º Prêmio Emmy. Patrick Rothfuss posa como homenageado no 4ª Heifer International. (Foto de Alberto E. Rodriguez - Imagem - Divulgação - via winteriscoming.net)

Por que Martin, das Crônicas de Gelo e Fogo, e o Patrick Rothfuss, das Crônicas do Matador do Rei, demoram tanto para escrever? Ir em busca de respostas e o meu envolvimento com a espera me fizeram entender qual a relação que construí com o consumir arte.

Por que a demora?

Não foi preciso acessar diversos sites em inglês ou passar horas nos resultados do Google para ter uma resposta convincente. Dentro os dois, começo a explicar a demora do Patrick (aproveito para falar um pouco do trabalho do escritor).

Patrick Rothfuss

O autor, com dois volumes publicados das Crônicas do Matador do Rei, entregou uma obra que mudou o meu olhar para a fantasia. Gosto do sistema de magia simples de entender, mas complexo ao ser usado; do narrar confiável ou não confiável do Kvothe e de todo um universo com um tom folclórico. Estes pontos chamaram a minha atenção, mas foi a linguagem que me conquistou. Já nas primeiras páginas de O Nome do Vento, aprendi que a poesia e a fantasia podem caminhar juntas.

Quero o terceiro volume. Qualquer notícia a respeito dos Portões de Pedra já fico animado. A demora estendeu-se e descobri o porquê. Patrick escreveu a história toda de uma vez. Depois começou a trabalhar no primeiro volume.

Foram 14 anos revisando a primeira parte da história. Quando penso que tenho em mãos uma obra trabalhada por mais de uma década, a sensação é diferente. Todo o enredo bem construído, o universo rico e a linguagem que parece um encantar poético possuem uma origem.

A primeira parte da história teve um trabalho minucioso de revisão, sendo assim, a segunda parte, que virou o segundo volume da trilogia (Temor do Sábio), teve que ser totalmente repensada. Essa preocupação em entregar a melhor obra possível encanta. Conforme o tempo passa, não sinto a espera e penso que são mais meses e meses de trabalho para uma obra impecável. Patrick entregará o projeto de uma vida e não um produto feito de forma banal.

George R. R. Martin

Ler todos os volumes da Crônicas de Gelo e Fogo e questionar a demora do próximo livro é esquisito. Ao passar pelos capítulos nota-se os diversos pontos de vista, ambientes culturais distintos e uma trama em que personagens e os núcleos narrativos se cruzam constantemente. Agora surge a pergunta:

Vários autores de fantasia fazem isso, por que o Martin demora?

Já li muitas obras de fantasia e encontrei livros com bons personagens, entretanto, eles não tinham o ponto de vista tão bem trabalhados como na obra mais famosa do Martin. Já encontrei livros com diversos pontos de vista construídos com primor, porém, sem entregar uma pluralidade cultural como as Crônicas de Gelo e Fogo entrega. É um livro complexo para construir onde um mero deslize pode acarretar problemas de continuidade ou personagens mal construídos ou parecidos.

Tenho que continuar a falar dos personagens. É como se cada um deles tivesse um livro próprio dentro do calhamaço de páginas escritas pelo Martin. Você, com certeza, odeia alguns deles. Entretanto, consegue mostrar ou provar a má construção dos personagens principais a qual dão nome aos capítulos?

O que é bom dá trabalho

Para os nerds, que nem eu, o contato com a cultura Pop é constante. Já consumi muito e conforme o tempo passa demoro mais para fazer escolhas. Hoje costumo dar preferência para obras onde posso encontrar uma elaboração mais alongada em vez de apressada. No começo ficava ansioso pelo lançamento das obras com um processo de criação mais lento. Uma postura desbravadora me acalmou.

Pesquisar, ir atrás do que é diferente e arriscar em terrenos fora da minha zona de conforto é um processo legal. Já peguei obras que não gostei e não virei um hipster intelectual. Olho os lançamentos da Disney e da Warner e acabo assistindo alguns. Este ir atrás do novo e oscilar sobre o que deseja é bem humano. Aliás, o público e os artistas são humanos.

Artistas são e sempre serão pessoas

Patrick ficou com a saúde mental abalada devido a pressão de entregar uma obra que os leitores pedem sem parar. Ele é um autor e não uma indústria. Ser criterioso com a fluidez entre os volumes e com a revisão é uma das qualidades que o faz ser tão bom. Se apenas entregasse de qualquer jeito para alimentar a ânsia dos fãs, seria criticado. Não está no momento de pensar e refletir sobre as críticas?

Sobre o Martin, não precisa ir muito longe na internet para encontrar piadinhas sobre o fato dele estar em diversos projetos em vez de escrever. Como eu me sinto sobre isso?

Acho o máximo. O escritor de 73 anos está curtindo a vida. Ele é um nerd que escrevia cartas para o Stan Lee e Jack Kirby. Esta alma de garoto está se divertindo ao trabalhar com vídeos games e séries de TV. Como se incomodar com alguém vivendo a vida como gosta? Em algum momento o livro será entregue, enquanto isso, tenho a oportunidade de ver uma mente criativa em várias mídias.

Como você consome cultura Pop?

Usei o exemplo dos livros, porém, tudo pode ser aplicado nas séries, vídeos games e cinema. Esperar de maneira obsessiva por algo só gera frustração. Você vai criar uma história própria na sua cabeça, não vai conseguir lidar com a expectativa e procurará culpados diante da decepção.

Entenda mais os autores, procure as referência deles e não espere uma review de um canal ou portal enorme para consumir algo diferente. Desbrave, procure o novo, tente sair dessa bolha que só sobrevive do hype. Comece com pequenos passos e não precisa abandonar o que faz muito sucesso.Ser nerd é se aventurar em terras novas.


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