Lula, Bolsonaro e a guerra na Ucrânia

Lula, Bolsonaro e a guerra na Ucrânia

Imagem: Unai82/ Envato Elements

Na semana passada, o ex-presidente Lula apareceu na capa da revista Time, talvez a mais importante do planeta. Poderia ser um grande momento para confirmar a liderança mundial que ele tem tentado apresentar, o que ele tem feito muito ao comparar a atuação que teve na área diplomática em seus mandatos com as trapalhadas internacionais de Jair Bolsonaro. Porém, o que deveria ter sido um grande feito foi, na verdade, um grande fiasco.

Na Europa, onde estou agora, o que mais se destacou da presença de Lula na publicação norte-americana foi a forma como ele falou sobre Volodymyr Zelensky. Ao afirmar que o presidente ucraniano era também culpado pela guerra, enterrou toda a agenda positiva que teve há poucos meses, quando fez uma visita de astro de cinema ao Velho Continente.

E esse resultado aconteceu porque, por aqui, o ataque da Rússia é contra a Europa, e não há espaço para colocar em dúvida a Ucrânia. Em tempos de risco conjunto, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a União Europeia decidiram um lado, e vão ficar com ele até o fim.

Mesmo os comentaristas políticos e os partidos que demonstram “compreender o lado russo” são questionados, cancelados e até mesmo perseguidos por uma evidente torcida pró-Ucrânia. O Partido Comunista Português é um caso claro, e tem sido atacado o tempo todo, nas ruas e na imprensa.

Mas não dá mesmo para concordar com Lula?

É claro que, se você fizer um exercício de observação simples, vai entender que a Rússia tinha mandado alguns recados, demonstrando que considerava a Ucrânia como seu território, ou pelo menos sua área de influência. E Zelensky preferiu ignorar e continuar a negociar a adesão à OTAN e à União Europeia.

Portanto, em uma análise inicial, o presidente ucraniano, assim como os líderes europeus e dos EUA, sabiam que Putin não estava gostando nada daquilo. E como os russos mantêm as suas áreas de influência? Ou definindo eleições, como em Belarus, ou com poder militar, como aconteceu em diversas ocasiões, inclusive na Crimeia, que deixou de ser parte da Ucrânia há pouco tempo.

Talvez, com o passar do tempo, o mundo passe a entender que Zelensky não agiu de forma estratégica. Porém, agora, no momento em que bombas caem sobre escolas e hospitais, fica muito difícil apresentar uma comparação pública entre o líder russo e o ucraniano.

Então, por mais que Lula possa ter feito essa reflexão mais complexa do que o calor da guerra permite, não deveria ter tratado o tema dessa forma, como já tinha feito dias antes, em um discurso, ao dizer que ele teria resolvido a guerra em uma mesa com cerveja.

E o que Bolsonaro tem a ver com isso?

Jair Bolsonaro entra nessa história porque, mesmo sabendo dos exercícios militares dos russos próximo à fronteira com a Ucrânia, resolveu visitar Putin dias antes da guerra. E, com isso, mostrou ao mundo, inclusive em um discurso confuso, que era “solidário à Rússia”.

Portanto, a presença dele mostrou que o Brasil oficialmente estava tomando um lado no conflito. E  o que poderia beneficiar Lula aos olhos do mundo foi ignorado pelo petista, que agiu em concordância com Bolsonaro.

O argumento que se pode usar é que, no final das contas, os votos dos brasileiros não têm relação alguma com o que ocorre do outro lado do mundo. Porém, em um momento frágil da economia nacional, demonstrar capacidade de interação internacional e de liderança para levar ao Brasil os investimentos necessários para gerar empregos e aumentar o poder de compra das famílias pode ser um diferencial competitivo muito grande.

No final das contas, o que temos agora, com Lula ou Bolsonaro, é um país que precisa se explicar para a comunidade internacional, principalmente para os parceiros ocidentais.


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