Weekly Digest #92

Weekly Digest #92

May 19th, 2023

Oi! Como foi a semana?

Em 2021 eu bebi da Água Viva de Clarice e, pela primeira vez, senti entre nós uma conexão sendo formada.

Eu sempre falei que não entendo Clarice. Tenho uma amiga que acha que a gente precisa estar na merda pra entender o que ela escreve. Lendo Água Viva eu concordei - e entendi.

Parei várias vezes no decorrer do caminho pra anotar palavras dela que, escritas com meu lápis e meu punho, se tornaram quase minhas. Quando terminei, olhei as anotações e brinquei com a ordem das coisas.

Com as frases da Clarice embaralhadas eu fiz essa carta, que não é um livro porque não é assim que se escreve:

Meu tema é o instante? Meu tema de vida. Mas o meu principal está sempre escondido. O que mais me emociona é que o que não vejo, contudo, existe.

Sou implícita. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. O que sei é tão volátil e inexistente que fica entre mim e eu, e quando vou me explicar perco a úmida intimidade. Estou cansada de me defender; sou inocente.

Posso não ter sentido mas é a mesma falta de sentido que tem a vida que pulsa. Escrevo-te porque não me entendo. Mas vou seguindo. Eu, entidade elástica e separada de outros corpos. Eu, viva e tremeluzente como os instantes. Acendo-me e me apago, acendo e apago, acendo e apago.

Sou limitada apenas pela minha identidade; tenho ainda alguma coisa que me prende (ou prendo-me a ela). Gosto de nunca. Também gosto de sempre. Não gosto é quando pingam limão nas minhas profundezas e fazem com que eu me contorça toda. Os fatos da vida são o limão na ostra?

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.  

Quero captar o presente que pela sua própria natureza já me é interdito: o presente me foge, a atualidade me escapa. A atualidade sou eu, sempre no já.

Bem atrás do pensamento há um fundo musical: para onde vou? 
A resposta é: vou.

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De novo eu com uma playlist que não lembro como apareceu na minha vida. Sei que foi na pandemia, quando a gente não podia andar por aí, que eu me deparei com a Walking New York in 1981 with Justin Strauss

Eu não sei se a companhia do tal Strauss é boa pra uma caminhada, mas as escolhas musicais dele me acompanharam em várias semanas - incluindo essa, que tá acabando. 

Uma curiosidade é que 1981 foi, estatisticamente falando, o começo da época mais violenta da história de New York. Era o começo da epidemia de crack, do mandato do Ronald Reagan na presidência e da explosão do Hip Hop.

Dá pra ter uma visão da época por meio das fotografias do Christopher Morris, um francês que passou seis meses registrando os subways da cidade. 

New York City Subway, 1981

Você pode acessar mais fotos clicando aqui.

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Se cuida!

F.


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